terça-feira, 20 de outubro de 2009

Encurralado

"Não dispa o meu amor
você pode encontrar um manequim;
não dispa um manequim
você pode encontrar o meu amor.

Ela há muito tempo
meu esqueceu

ela experimenta um novo
chapéu
e parece mais
coquete
do que nunca.

Ela é uma
criança
e um manequim
e
é a morte

Não tenho como odiar
isso

Ela não faz
nada fora do
comum.

Queria apenas que ela
fizesse."

Charles Bukowski - Encurralado

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Certos poemas soam como uma espécie de filme para nós. Esse de Bukowski é matador. Ele resume perfeitamente alguns fatos esquisitos que ocorreram durante essa semana. O meu amor despido em um manequim. Um fantoche fingindo ser eu. Alguém brincando de manipular amores. Alguém com medo de ser refém novamente do amor de um manequim. Manequins amam com mais sinceridade do que algumas pessoas. Manequins não são tão frios. Sentiu a sonoridade? Manequins apenas ficam parados, guardando o que talvez tenha dentro deles. Manequins também servem para experimentos, contudo, isso é bem menos vergonhoso do que fantoches. Fantoches não têm vontade própria. E mesmo que tivessem, sucumbiria perante seu manipulador. O chapéu novo que ela experimenta não serve. Mesmo assim, ela nunca o admitiria. Ela não parece coquete. Ela o é. Sinto uma estranha vontade de colocar minha vida no papel, mas, ao mesmo tempo, sinto que não chegou a hora. Estaria eu virando veado?