quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Sobre vida, vazio e cerveja

Em meio a uma multidão frenética eu paro, bebo a minha cerveja e vejo a vida como um filme, cujos intervalos são mais interessantes que o próprio desenrolar. As pessoas estão muito preocupadas, mergulhadas dentro de si mesmas e de suas confusões. E você sabe sobre correria. Eu apenas aprecio minha cerveja, assistindo a esse belo espetáculo da vida, cuja trilha sonora poderia ser composta por Warren Zevon. Ninguém toca Keep me in your heart como ele.

A garota com quem estou nesse momento é bela, inteligente, bastante esperta para sua idade. Porém seu único defeito é não gostar de cerveja. Será mesmo que isso é um defeito? Ela me faz perguntas difíceis. Sente que meu amor por ela não resistirá a mais uma noite. Tentaremos, tentaremos outra vez em vão sufocar nossos corpos numa busca sem sentido. Sujaremos nossos corpos. Deixaremos nossas almas imundas, vazias. Perderemos a razão tentando condensar um amor que só acontece quando temos apenas um ao outro. É isso. Eu a amo quando não tenho ninguém. Eu a amo em minha completa solidão. Ela continua fazendo perguntas difíceis, enquanto come uma lasanha horrível. Vai mexendo na minha verruga. Eu fico excitado. Peço mais chopp. É necessário embriagar o espírito para que a consciência me deixe em paz. O sexo com ela é animal, apesar de ela detestar essa expressão. As palavras vão ficando mais raras. Assim como as pessoas e a vida. lembro-me do Velho Bukowski. Ninguém falava da vida como ele. Por um segundo, quase pensei em imitá-lo... Que pretensão a minha.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

A teia

Ela é só uma menina e eu pagando pelos erros que nem sei se cometi. Ela é só uma menina, indefesa, frágil, pequena, imprevisível, bela. E eu aqui me subjugando, com medo de uma aproximação, com medo de uma suposta rejeição. Nesse momento, ela anda de um lado para o outro no meio de uma grande sala, frenética, como a me lembrar de sua presença, dizendo baixinho aos meus olhos para seguir seus passos, acompanhar suas curvas. Eu apenas olho. Não tenho escolha. Continuo fumando meu cigarro, rascunhando um pequeno conto, transferindo para o papel tudo que eu queria fazer na realidade com ela, mas que na verdade, jamais terei chance. Ela é só uma menina? Indefesa? Frágil? Pequena? Imprevisível? Bela? Não. Ela não é apenas uma menina. E eu continuo pagando pelos erros que ainda não cometi, mas que daria a vida para cometer. Ela continua lá. Sua beleza estonteante vai aos poucos minando o resto de lucidez que ainda carrego comigo. Nossos olhos acidentalmente se cruzam. Meu coração vai até à boca e volta. O dela continua firme, em sua indiferença com a qual insiste em me ignorar. Não sei o que fazer para chamar a atenção dela. O cigarro chega ao fim. Ela me olha mais uma vez e resolve esboçar um sorriso. Loucura. Isso não pode ser para mim. Sim, ela é só uma menina. Bela. Pequena e imprevisível. Frágil e indefesa não cabe mais nesse contexto. Apesar de ela ser só uma menina, suas armadilhas são de mulher. Eu não percebi no início, mas ela possui uma teia. Teia esta que é repleta de machos, presos, amarrados, esperando apenas o momento de ter o sangue sugado. Não pode ser, ela quer brincar de amor. Olho novamente para teia dela e não consigo mais escrever uma palavra. Na verdade, não consigo ter mais nenhuma reação. Ela agora se aproxima de mim. Ainda vem longe, mas já posso sentir seu veneno paralisante. Bate um desespero ao me imaginar fazendo parte daquela teia de machos, os quais ela seduz, paralisa, enrola, brinca, os mata e suga todo seu sangue. Agora sinto claramente os erros que cometi. Eu não sei brincar de amor. Eu nunca aprendi a brincar de amor. E agora me vejo diante da Viúva Negra, cujo jogo de amor me fez sucumbir. Estou na teia, enquanto ela aprecia outros machos, como que tirando a sorte para ver quem será o primeiro a ser devorado. Meu desespero é tanto diante dessa cena mórbida, que consigo romper e escapar das teias. Corro desesperadamente para longe. Será que quem é só um menino não sou eu? Indefeso e frágil. Pequeno. Previsível e amedrontado. Ela sentirá saudade de mim. Não do gosto do meu sangue, que ela nunca provou, mas do meu semblante de confusão, dor e medo. Isso a animava. Isso a fazia se sentir viva. Felizmente ela tem outros machos. Ela é boa, sabe jogar. Se eu queria mesmo enlouquecer, essa foi a minha chance, pois um momento quase sinto saudade do medo da morte que ela me provocou. Parece que o momento em que nos deparamos frente a frente com a morte, nos sentimos mais vivos. Eu disse, ela é boa. Depois desse episódio, nunca mais a vi. Coincidentemente, nunca mais vivi.